As Crônicas de Gelo e Fogo

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quinta-feira, 3 de julho de 2008

Cisma no Anglicanismo: nova reforma ou degeneração?

Arcebispo critica ameaça de cisma na Igreja Anglicana
António Marujo
Grupo que se reuniu em Jerusalém diz que se está a anunciar um "falso evangelho" ao aceitar ordenação de um bispo e as uniões de homossexuais
Rowan Williams, o arcebispo de Cantuária, a maior autoridade da Igreja Anglicana, passou ao contra-ataque contra os bispos e clérigos rebeldes da sua congregação que ameaçam um cisma por causa da ordenação de um bispo gay e a permissão das uniões homossexuais. Disse não terem legitimidade nem autoridade e, por consequência, integridade.

Mais de 1100 bispos e clérigos anglicanos avisaram contra o que consideram o "declínio espiritual" da Comunhão Anglicana. Em causa está a ordenação de um bispo homossexual nos Estados Unidos, em 2003, e a aprovação, pela Igreja Episcopal do Canadá, em 2002, da bênção de uniões homossexuais. Na declaração final da Gafcon (Conferência para um futuro anglicano mundial), que decorreu na semana passada em Jerusalém, o grupo diz que está a ser anunciado "um falso evangelho" pelos que, no anglicanismo, aceitam a homossexualidade (a declaração está disponível em http://www.gafcon.org/).
A ameaça, agora, é deixar de reconhecer a autoridade do arcebispo de Cantuária, primaz dos 80 milhões de anglicanos. A Conferência de Lambeth, assembleia magna de todos os bispos anglicanos, reúne-se a partir de 16 de Julho e pode consumar a ruptura. A maior parte dos que reuniram na Gafcon pode boicotar a Conferência de Lambeth (Sul de Inglaterra).
O arcebispo de Cantuária, Rowan William, num comunicado, diz que as propostas do grupo da Gafcon são "problemáticas". E faz um pedido: "Apelo a que reflictam atentamente nos riscos que se correm". Um segundo grupo ameaça também separar-se, devido à ordenação de mulheres padres, diz o jornal The Guardian.
"Não basta contestar as estruturas da comunhão. Se não funcionam bem, o desafio é renová-las, em vez de improvisar soluções (...) que continuarão a criar mais problemas", escreve ainda Williams, citado pela AFP. O primaz anglicano lamenta ainda, diz a Reuters: "Em todos os lados, abundam as nossas controvérsias, slogans, deturpações e caricaturas".
O bispo da Igreja Lusitana, Fernando Luz Soares, que integra a Comunhão Anglicana, disse ao PÚBLICO que a cisão pode ser inevitável. A sua interpretação é que o grupo Gafcon está a marcar terreno para Lambeth, embora não acredite que muitos dos seus membros lá vão.
"Alguns querem amarrar as restantes igrejas a uma determinada perspectiva moral", diz. Ao mesmo tempo, propõem uma espécie de cúria, que incluiria vários bispos numa espécie de governo colegial. Num documento da Igreja Lusitana sobre a proposta de pacto que estará em discussão em Lambeth, essa hipótese de governo retiraria autonomia às igrejas locais, o que contraria a tradição anglicana.
Na liderança da contestação ao arcebispo de Cantuária estão o arcebispo nigeriano Peter Akinola, que já se referiu a Williams como apóstata, e vários outros bispos africanos, australianos e latino-americanos, para quem a homossexualidade é sobretudo uma questão ocidental. Na anterior Conferência de Lambeth, em 1998, a homossexualidade foi definida como "incompatível com as escrituras". Por isso, o grupo de Gafcon acusa a Comunhão Anglicana de não respeitar os "princípios morais bíblicos" que ela própria reafirmou há dez anos. 35 milhões de crentes é quanto os contestatários da congregação anglicana que estão a ameaçar sair dizem representar.

Fonte: Público.pt.

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