As Crônicas de Gelo e Fogo

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sábado, 7 de agosto de 2010

'Deus voltou à agenda política com o 11 de setembro', diz Eagleton

Escritor britânico falou sobre teoria da fé em sua apresentação na Flip. Autor fez críticas aos colegas Richard Dawkins e Christopher Hitchens.


Luciano Trigo
Do G1, em Paraty, em 07/08/2010.

Depois das palavras duras dirigidas por Salman Rushdie a Terry Eagleton na noite de sexta-feira (6), a expectativa para a mesa, a primeira, deste sábado (7), "Andar com fé", aumentou. Chamado de desonesto e covarde pelo colega, Eagleton está acostumado a se envolver em controvérsias - as mais recentes foram com Richard Dawkins, sobre religão, e com o romancista Martin Amis, a quem acusou de preconceito contra os muçulmanos (sobrou até para o falecido Kingsley Amis, pai do escritor, a quem acusou de racista e homofóbico).

Mas, bem humorado e sereno, Eagleton manteve a elegância, reafirmando suas críticas a Dawkins e Christopher Hitchens, cuja visão da fé ele considera "ingênua e desinformada", e aos intelectuais liberais ingleses - grupo no qual inclui Rushdie - que confundem o Islamismo com o terrorismo extremista, alimentando o preconceito contra os muçulmanos.

Crítico literário dos mais importantes, Eagleton já foi classificado pelo Sunday Times, como "marxista, religioso, velho e punk". Aos 67 anos, ele tem mais de 40 livros e uma centena de artigos publicados sobre literatura, política, religião e basicamente qualquer assunto.

"Quando eu quero ler um livro, eu escrevo um. Acho invasivo bisbilhotar os livros dos outros", brincou, provocando risos na plateia. Atualmente Eagleton leciona em diversas universidades na Europa e nos Estados Unidos.

"A questão importante não é acreditar ou não em Deus, mas se perguntar por que Deus voltou à agenda política. Eu acredito que foi por causa dos atentados de 11 de setembro", diz o escritor. "Dawkins e Hitchens se comportam como um racionalista obsoleto do século 19, como se a fé fosse uma rival da teoria da evolução. Na verdade uma coisa não tem nada a ver com a outra. Todas as pessoas têm algum tipo de fé, mesmo que não seja religiosa", completou.

"Dawkins e Hitchens ignoram coisas básicas sobre a teologia, bem como as ricas tradições das diferentes religiões. Eles pensam que toda fé é cega, e que acreditar em Deus é como acreditar em alienígenas, o que é um equívoco primário".

Futebol, o ópio do povo?


A palestra foi cheia de momentos divertidos, como quando Eagleton, estando no Brasil, se desculpou por associar o futebol à ideia de "ópio do povo". Mas acabou insistindo na tese, ao afirmar que o esporte foi uma "conspiração das elites".

"A classe dominante se reuniu numa mesa para debater uma forma de manter as pessoas felizes quando não estivessem trabalhando. E o resultado foi essa invenção genial", explicou.

Outro momento inusitado foi quando atribuiu as frases longas de Marcel Proust à Comuna de Paris. "A mãe de Proust, como burguesa, temeu pela vida quando estava grávida, e a asma do escritor foi resultado dessa experiência intra-utrina. As frases longuíssimas de seus livros foram uma compensação in consciente para a falta de ar que ele sentia".

Sempre na moda

"Fala-se tanto em liberdade individual hoje, e no entanto o que domina não é, em absoluto o indivíduo humano, o indivíduo considerado em geral, é o indivíduo privilegiado por sua posição social, é por conseguinte a posição, a classe. Que se atreva um indivíduo inteligente da burguesia a levantar-se contra os privilégios econômicos desta classe respeitável, e veremos o quanto estes bons burgueses, que neste momento só tem na boca a liberdade individual, respeitarão a sua."


Miguel Bakunin (A educação integral, em Educação Libertária)


Postado por PriAliança no Mob de leitura.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Brasileira evita roubo falando de Jesus

'Ele não era má pessoa', diz brasileira que evitou roubo falando de Jesus

Nayara Gonçalves, de 20 anos, nunca tinha sido assaltada. Ela diz que ficou chateada ao saber que assaltante foi pego em outro roubo.

Giovana Sanchez

Do G1 Mundo, em 03/08/2010

Apenas quatro minutos depois de abrir a loja de celulares em que trabalha em Pompano Beach, na sexta-feira retrasada (23), a mineira Nayara Gonçaves viu um homem entrar todo vestido de preto. Ela percebeu que havia algo estranho, mas não conseguiu fechar a porta a tempo. Ele se aproximou do balcão, perguntou preços de aparelhos e logo mostrou uma arma, anunciando um assalto. Em vez de entregar de cara tudo o que tinha no caixa, Nayara decidiu conversar com o homem, e acabou convencendo ele a desistir do roubo.

"Percebi que ele não era má pessoa. [...] Ele disse que odiava ter que fazer aquilo, mas que precisava de todo o dinheiro que tinha no caixa. Eu disse: 'antes de fazer qualquer coisa eu quero te falar um pouco de Jesus'. Comecei a dizer que era evangélica e que esse não era o caminho certo. Ele ouviu, não apontou mais a arma pra mim e falou que precisava de US$ 300 para não ser despejado do apartamento em que morava", disse a brasileira de 20 anos em entrevista ao G1, por telefone.

O assaltante, depois identificado como Israel Camacho, de 37 anos, disse que Nayara estava certa e que não queria machucá-la. Ela ofereceu ajuda para ele arrumar um emprego, e ele disse que já tinha um trabalho, mas precisava do dinheiro imediatamente. "Jesus pode mudar a sua vida", ela disse. Já a caminho da porta, o assaltante olhou para a brasileira e mostrou a arma falando: "quer saber de uma coisa? Isso nem é de verdade, é uma arma de brinquedo."


Nayara nunca foi assaltada antes. Nascida em Mantena (MG), ela mora com a família nos EUA há cinco anos e é gerente da loja. "Fiquei muito nervosa, porque não sabia qual seria a reação dele. Meu chefe quando viu as imagens das câmeras de segurança disse que eu era louca, que devia ter entregado o dinheiro. A policial da delegacia me falou que nunca tinha visto algo assim."

A fala da brasileira pode ter poupado um assalto à loja em que trabalha, mas não impediu que o assaltante voltasse a roubar. Camacho foi preso no mesmo dia, após invadir uma loja de sapatos poucas horas depois da tentativa frustrada de levar dinheiro do estabelecimento onde Nayara trabalha. "Fiquei muito chateada quando soube. Achei que ele realmente tinha se arrependido, que eu tinha plantado uma semente em seu coração. Mas acho que agora ele vai repensar e ainda pode fazer um compromisso com Deus."