As Crônicas de Gelo e Fogo

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sexta-feira, 27 de junho de 2008

Um quadro, três histórias

CHERI À PARIS / CRÔNICAS FRANCESAS

Daniel Cariello
(09/06/2008)
Jean Novion, francês no nome, argentino na nacionalidade e brasileiro no local de nascimento, visitou o Louvre em 1996, antes que O Código da Vinci tranformasse o célebre museu em filial da Disneylândia e a Mona Lisa em uma espécie de "New Mickey". Não era o frenesi que é hoje, mas milhares de pessoas já acotovelavam-se diariamente em frente ao quadro, muito mais para tirar fotos dele do que para realmente observá-lo. Isso apesar de uma placa em letras garrafais prevenir em diversas línguas que "é proibido fotografar".
Mas vai tentar controlar 200 japoneses e seus aparelhos.
Pois bem, Jean seguiu as indicações e chegou, junto com a delegação asiática, à pintura mais famosa do mundo. Estranhou o tamanho.
— É aquela titica ali?
Verdadeiros samurais modernos, munidos de máquinas fotográficas ao invés de espadas, os japoneses não se importaram com as dimensões da obra e nem com o aviso, e saíram clicando em uma velocidade digna de Guiness. Do livro dos recordes, claro, não da cerveja.
Só que a Mona Lisa é o único quadro do Louvre com um guarda de plantão ao lado. Um carinha pago para dar esporro, que fica lá o dia inteiro. E ao ver metade de Tóquio dentro da sala, ele tratou de iniciar uma sessão de bronca multilíngüe.
— Pas de photos! No photos! Sem fotos! いいえ写真!
Gesto imediato, os japoneses viraram-se todos para o sujeito e, de forma sincronizada, dispararam centenas de flashes em sua direção. Aproveitando o momento de cegueira do rapaz, voltaram-se novamente para La Gioconda e bateram mais trocentas fotos. Satisfeitos, viraram-se e foram embora, com aquele sorriso Made in Japan.
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Ronald Walker, ex-punk, nascido na Inglaterra, quase trinta anos de Brasil, aproveitou uma viagem à França e deu uma passada no Louvre. Chegando à sala onde a Mona Lisa repousa, ou tenta repousar, ficou de costas para a obra.
— Não vou olhar.
— Tá doido?
— Não vou.
— Por quê?
— Quero ser o primeiro a vir aqui e não ver o quadro.
— É a Mona Lisa, tem que ver.
— Tem que ver por quê?
— Porque tem. Saiu em livro.
— Não li.
— E em filme.
— O único cinema verdadeiro é o turco, legendado em aramaico.
— Tá em milhares de camisetas.
— Só uso camiseta do Sex Pistols, de preferência com uns dois ou três furos.
— Tem música que fala dela.
— Se os Ramones não gravaram, não presta.
— Você é chato, hein? Vamos nessa.
— Peraí, peraí. Vamos fazer o seguinte: eu vou olhar de relance, mas você não conta pra ninguém, viu?
— Combinado! Não abro o bico.
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Asdrúbal Inocêncio, cearense há 12 gerações, também conheceu a pintura de Da Vinci.
— Ô muié feia da peste, diabo!


Fonte: Diplo.

Leia também: Eu X Zidane e Procura-se pão francês.

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