Anúncio do Reino de Deus, judaísmo e humildade marcam Nazareno.Evangelhos mesclam fatos e interpretações feitas por grupos cristãos.
Reinaldo José Lopes Do G1, em São Paulo
É um bocado irônico que o personagem mais influente da história humana também seja um dos mais misteriosos. Jesus de Nazaré não tem data de nascimento ou morte registrada com segurança (embora seja possível estimá-las com margem de erro de dois ou três anos); não deixou nada escrito de próprio punho (há até quem argumente que ele provavelmente era analfabeto); não restou um único artefato do qual se possa dizer com certeza que pertenceu a ele.
Os relatos de seus seguidores, escritos entre duas e seis décadas após a morte na cruz, falam com riqueza de detalhes de um período curtíssimo de sua vida adulta, elencando seus atos e ensinamentos, mas nos deixam no escuro sobre a maior parte de sua infância e adolescência, suas angústias pessoais e seu relacionamento com amigos e familiares.
A situação pode soar desesperadora ao extremo para um historiador que, sem recorrer à fé cristã, queira reconstruir a vida e a mensagem desse judeu singular. Mas a situação é menos complicada do que parece. Por um lado, é preciso reconhecer que os Evangelhos, principais narrativas sobre Jesus na Bíblia cristã, não são livros históricos no sentido moderno do termo. “Os textos dos Evangelhos, todos eles, são uma combinação de elementos históricos e interpretações feitas posteriormente no âmbito das comunidades cristãs", lembra o padre Léo Zeno Konzen, coordenador do curso de teologia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (RS).
Trocando em miúdos: os evangelistas (conhecidos entre nós pelos títulos tradicionais de Mateus, Marcos, Lucas e João) estavam tão preocupados em relatar o que tinha acontecido com Jesus e os apóstolos 50 anos antes quanto em tornar esses fatos relevantes para seu público, formado por cristãos nascidos depois que seu Mestre morrera na cruz. A boa notícia, porém, é que a leitura crítica e cuidadosa dessas narrativas é capaz de resgatar grande parte da vida terrena de Jesus.
O retrato que emerge desse esforço é, em certos aspectos, familiar para qualquer cristão, ao mesmo tempo em que humaniza o Nazareno. O chamado Jesus histórico é uma figura humilde, que põe sua mensagem - o anúncio da chegada do Reino de Deus - acima de qualquer preocupação com sua própria importância. Não se comporta como uma entidade superpoderosa ou onisciente. E coloca em primeiro lugar a história e o destino do povo de Israel, ao qual pertence. É um Jesus que pode ajudar os cristãos a repensarem a origem de sua própria fé - mas difícilmente é uma ameaça a ela, a menos que se acredite que todo versículo dos Evangelhos é verdade literal, como se fosse um filme do que aconteceu no ano 30 d.C.
Fonte: G1.
sábado, 16 de maio de 2009
Pesquisa sobre 'Jesus histórico' retrata Cristo mais humano, mas não ameaça fé - Parte 1
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