As Crônicas de Gelo e Fogo

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sábado, 19 de junho de 2010

Jogada mais que suspeita

Veto ao Morumbi abre a perspectiva de despesas públicas com a construção de novo estádio, algo que São Paulo não pode aceitar


Em cartas enviadas à Folha, leitores sintetizam o sentimento que se disseminou pela cidade de São Paulo depois de anunciado o veto da Fifa à reforma do estádio do Morumbi, candidato a palco de abertura da Copa de 2014.

“Era exatamente isto o que todos (“eles”) queriam: farra com o dinheiro público”, opinou um missivista, apreensivo com a possibilidade de a conta do torneio ser paga pelo contribuinte.

Com uma nota de indignação, outro leitor propôs: “Os paulistas, especialmente os paulistanos, devem aproveitar a proibição do Morumbi e comunicar que São Paulo está fora da competição -e de sua despesa também”.


É impossível não ver na exclusão do estádio do São Paulo F. C. um golpe para desembaraçar a construção de uma nova arena. Ela surgiria em Pirituba, na zona norte da cidade, a um custo estimado em cerca de R$ 1 bilhão.


Especula-se que a arena multiuso poderia posteriormente ser transferida ao Corinthians, cujo presidente foi escolhido pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para chefiar a delegação brasileira na África do Sul.


Em que pesem as declarações em contrário de autoridades municipais, estaduais e federais, são justificáveis os temores quanto ao uso de recursos públicos para o empreendimento -que parece atender a poderosos interesses.


Conforme relato da jornalista Renata Lo Prete, ontem, no “Painel”, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que enfrenta a oposição da cúpula do São Paulo, encontrou-se recentemente, em sua fazenda, com o prefeito paulistano Gilberto Kassab.


O alcaide, embora tenha defendido em público o Morumbi, parece ter agido nos bastidores em favor do novo estádio, parte de um complexo que também prevê um grande centro de convenções.


Torcedor são-paulino, Kassab declarou-se impedido de defender o veto, mas disse que se surgissem “meios técnicos” para fazê-lo, iria “em frente”.


Conhecido o peso da CBF na Fifa, os “meios técnicos” seriam fáceis de encenar, embora difíceis de convencer.


Ao banir o Morumbi, a entidade máxima do futebol não deixou dúvida sobre o caráter “político” de sua decisão.


Desde o início, aliás, demonstrou má vontade com o campo do São Paulo, um dos três estádios particulares previstos para o evento (restam agora a Arena da Baixada, em Curitiba, e o Beira-Rio, em Porto Alegre).


Flexível em outros casos, a Fifa, nas questões relativas ao Morumbi, assumiu atitude inusual em matéria de rigor e intransigência.


Repórteres que participam da cobertura da Copa na África do Sul testemunham que arenas com defeitos semelhantes passaram por reformas menos profundas do que as exigidas do estádio paulistano -e foram aprovadas.


Patrocinar a inauguração da Copa pode trazer benefícios à cidade de São Paulo, em especial na melhoria de sua infraestrutura urbana.


Mas gastar dinheiro público com uma nova arena é algo fora de questão.


Como sugeriu o leitor, se for esse o requisito, melhor declinar da honraria.


Por Juca Kfouri

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